O estudo de caso trata de um
escorregamento de massa ocorrido na cidade de Governador Valadares, no bairro
Santo Agostinho na Rua Jequitibá sendo em frente à intersecção com Rua Braúnas.
O loteamento iniciou suas obras em 1998 e foi finalizado em 2003, porém como
quase em toda construção, houve erros de execução.
Na visita realizada ao local escolhido
para o trabalho constatamos a presença de xisto, assim podemos concluir que o
solo é derivado desta rocha metamórfica. Sabe-se que os solos derivados de
xisto apresentam relativamente altos teores de silte e argila e também a
presença de mica (Neossolos Litólicos e Cambissolos).
ÁREA
DO LOCAL
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Vista aérea do local em 2011 |
Após o escorregamento de massa foi possível identificar que um
grande trecho da via cedeu, aproximadamente seis metros, colocando em risco a
construção abaixo na Avenida abaixo da rua. No início do mês de junho deste ano, a
situação ainda estava da mesma forma com o asfalto cedendo e a única medida de
contenção realizada foi esse despejo de concreto formando uma pequena barreira conforme as imagens abaixo:
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Via danificada e contenção paliativa |
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Parte lateral da encosta margeada pela Avenida Veneza |
Como mostra a imagem acima, a encosta estava
cedendo, e a drenagem não poderá ser feita na crista da encosta, pois poderia
acelerar o processo erosivo. No meio do perímetro que cedeu, há uma caixa-ralo
ou boca-de-lobo que coleta o volume pluvial da via e o despeja em uma saída
(manilha) localizada a aproximadamente três metros abaixo, no início onde foi
realizada a regularização mecânica. Porém, esse volume deságua na parte baixa
da encosta, que é o início do muro de terra armada.
Outro problema, é que nessa via do lado em
que estão localizadas as residências, não há canaleta de água e a declividade
da pavimentação está para o lado da encosta, porém a saída não comportou esse
volume de água.
SOLO
Segundo a
EMBRAPA (1999), solo consiste em “coleção de corpos naturais constituídos por parte
sólida, líquida e gasosa, tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais
minerais e orgânicos, que ocupam a maior parte do manto superficial das
extensões continentais. Contém matéria viva e podem ser vegetados”. Já para
JENNY (1941) “o solo é o resultante da interação de cinco fatores ambientais:
material de origem, clima, relevo, organismos e tempo.” Para a Pedologia que estuda a formação do solo “os
solos correspondem à camada viva que recobre a superfície da terra, em evolução
permanente, por meio da alteração das rochas e de processos pedogenéticos comandados
por agentes físicos, biológicos e químicos”.
Para o profissional da área de engenheiro civil, o solo é visto como um corpo passível de ser escavado,
podendo ser utilizado dessa forma como suporte para construções ou material
de construção.
Tipo de solo encontrado no local
Ao iniciar uma construção, seja ela de pequeno ou
de grande porte, é indispensável à realização do estudo do solo com o propósito de conhecer o comportamento do que se espera
de um solo quando este receber os esforços e assim garantir a estabilidade da
obra.
Na visita
realizada ao local constatamos a presença de xisto,
assim podemos concluir que o solo é derivado desta rocha metamórfica. Sabe-se
que os solos derivados de xisto apresentam relativamente altos teores de silte
e argila e também a presença de mica (Neossolos Litólicos e Cambissolos).
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Diferentes horizontes do solo |
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Notável presença de Xisto no solo |
O solo tem uma grande
mistura de Silte e Argila. Esses materiais
têm baixa permeabilidade, logo, constata-se que é mais fácil de ocorrer
encharcamentos. Embora este tipo
de solo seja mais resistente à erosão, ele é altamente susceptível à
compactação.
Textura do solo
Outros
fatores que influenciam na permeabilidade de um solo são o tamanho e a
proporção das partículas que o compõem, ou seja, sua textura.
A
textura do solo está diretamente ligada à proporção relativa granulométrica, ou
seja, o quanto se tem de areia, silte e argila no solo, classificado em três
classes:
- Solos de Textura Arenosa
- Solos de Textura Média
- Solos de Textura Argilosa
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Textura avermelhada do solo |
Diante dessas
informações, foi realizado um ensaio de análise física e química no Laboratório
de Ensaio dos Solos da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, e foi comprovado a predominância de um solo siltoso argiloso.
Movimento de massa é quando
ocorre qualquer deslizamento de rochas ou sedimentos nas superfícies
inclinadas, relacionados na grande parte com a ação da gravidade, sendo eventos
geomorfológicos deposicionais, esses movimentos ocorrem geralmente quando
houver forças de tração dadas pela gravidade atuando declividade do terreno.
Decorrentes dos fatores
relacionadas pela atividade humana em alterações na rede de drenagem e ocupação
de solo, como por exemplo: eliminação da cobertura vegetal, cortes para
abertura de novas estradas, construção de muros, taludes mal dimensionados,
lançamento de lixo dentre outros. Quando há uma ocupação sem organização de
encostas, desmatadas para construção de casas, é também uma das principais
causas responsáveis pela ocorrência de deslizamento.
Causas do movimento de massa
As causas dos movimentos de
massa podem ser internas, quando ocorre o colapso sem que haja mudança nas
condições geométricas da encosta ou resultam na diminuição da resistência
interna do material, como, por exemplo, efeitos das oscilações térmicas e/ou
diminuição da resistência (coesão e ângulo de atrito) dos solos e rochas.
E podem também ser externas
quando os agentes provocam um aumento das tensões de cisalhamento, sem que haja
diminuição da resistência do material, como, por exemplo, o aumento da
inclinação das encostas e deposição de material na sua parte superior
“Nos
movimentos de massa ocorre um movimento coletivo do solo e/ou rocha, onde a
gravidade/declividade possui um papel significativo. A água pode tornar ainda
mais catastrófico, mas não é necessariamente o principal agente desse processo” (Cunha
e Guerra, 2008)
A falha que acarretou o problema foi encontrada na
drenagem superficial da via, que não foi suficiente para conter o volume
pluvial. O mau planejamento do
dimensionamento das portas de visitas, canais coletores de água e caixas-ralos
ocasionou o encharcamento do solo que acabou cedendo, por possuir baixa
permeabilidade. Segue abaixo foto da saída de água que caía na encosta:
MEDIDAS
MITIGADORAS
Para que a área em que
ocorreu o deslizamento do solo seja reconstruída, é preciso
que primeiramente se faça o controle da drenagem das águas pluviais. A caída de
água e a impermeabilidade do solo no local devem ser estudadas, e a rede de
drenagem modificada. A drenagem tem a função de captar a água da chuva antes
dela infiltrar no terreno ou também captar a que já foi infiltrada.
Para reconstrução da via, uma
solução em definitivo e economicamente viável, seria a construção de um muro de
terra armada, ou, gabião. Para um modo paliativo, poderia ser construído um
talude com Rip Rap de solo-cimento.
Muro de terra armada
Os muros em Terra
Armada são estruturas de contenção flexíveis, do tipo gravidade, que
associam: aterro selecionado e compactado; elementos lineares de reforço que
serão submetidos à tração; e elementos modulares pré-fabricados de
revestimento.
Devido à sua alta capacidade de suportar carregamentos, Terra Armada é
ideal para muros de grande altura, ou que estejam sujeitos à sobrecargas
excepcionais. O princípio da tecnologia Terra Armada é
a interação entre o aterro selecionado e os reforços - armaduras de alta
aderência - que, corretamente dimensionados, produzem um maciço integrado
no qual as armaduras resistem aos esforços internos de tração
desenvolvidos no seu interior. Estes maciços armados passam a se
comportar como um corpo “coesivo” monolítico, suportando, além de seu peso
próprio, as cargas externas para as quais foram projetados.
O processo Terra
Armada oferece grandes vantagens:
RESISTÊNCIA INTERNA: Que,
aliada à estabilidade externa do volume armado, confere ao
conjunto significativa capacidade de resistir às cargas estáticas e
dinâmicas.
CONFIABILIDADE – A
durabilidade dos materiais está bem documentada e é monitorável, permitindo
alto grau de confiabilidade.
ADAPTABILIDADE – A tecnologia
provê soluções para casos complexos e, muitas vezes, demonstra ser a melhor
solução para problemas como: uma faixa de domínio estreita; taludes naturais
instáveis; condições limite de fundação com expectativa de recalques
significativos.
ASPECTO ESTÉTICO – A
variedade de possibilidades de paramentos externos pode atender a diversas
exigências arquitetônicas.
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Muro de Terra Armada atirantado |
Para construção desse muro não seria
necessário material drenante e nem os tubos de drenagem mostrados na imagem
abaixo, somente os suspiros.
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